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Aqui, é o que me apetece!!

Não só o que me apetece, mas quando me apetece e sobre o que me apetecer! Tenho dito!... E vou continuar a dizer!



Domingo, 13.07.14

Emigrante ou migrante, o sentimento é o mesmo

Tanto faz que a deslocação seja de 180km ou de 18.000 km.

 

É um misto de «estamos a fazer pela vida» com «o que raio é que fizemos à nossa vida».

 

Um sentimento de abandono quando fomos nós que abandonámos:

    • A nossa casa;
    • Os nossos pertences;
    • A nossa família;
    • Os nossos amigos;
    • As nossas rotinas;
    • Tudo o que nos é familiar.

 

Um vazio que se nos cola na pele e que, não raras vezes, se nos transborda pelos olhos.

 

Porque nada é como dantes e queremos tudo de volta:

    • O sentimento de pertença;
    • O conforto de um rosto conhecido;
    • Sermos reconhecidos na rua;
    • O cheiro da nossa casa;
    • As bancadas da nossa cozinha;
    • O perfume das nossas comidas;
    • O riso descomprometido dos encontros casuais com os amigos.

 

Mas isso vai demorar, porque uma vida inteira não se constrói do nada em menos de um fósforo, e todas as nossas recordações não se encaixam ali. Não moram ali, apenas em nós.

E por muito que o tempo passe e tudo se torne menos doloroso, nunca é igual. Nada é igual.

 

O temporário prolonga-se e desistimos de pensar que rapidamente voltaremos.

Os ninhos de amor são alugados ou vendidos e sentimos, mesmo quando voltamos, que já não pertencemos ali.

Com a agravante de também não pertencermos ao sítio de onde viemos, e onde a vida passa por nós sem que tenhamos coragem de a tomar nas nossas mãos, de tanto que estamos agarrados ao que fomos e tivemos e que não recuperaremos mais.

 

Porque as amizades são como um café... vão arrefecendo.

 

Porque as pessoas passam a ser outras e, nas nossas próprias cidades, não reconhecemos mais ou sequer somos reconhecidos.

 

E onde está agora o teu dia-a-dia, não te envolves, não te comprometes, não te dás a conhecer.

 

E fica-se num limbo onde não somos o que fomos e nunca voltaremos a ter o que tivemos.

E falta-nos a coragem de assumir que o derradeiro passo terá que ser nosso: entregarmo-nos à realidade e esquecer o que foi.

 

Mas então lembramo-nos:

    • E a família que ficou?
    • Voltaremos a ter um cão?
    • Algum dia voltaremos a comprar uma casa?

 

Nada disto interessa... A coragem de dar o primeiro passo não pode ser destruída pela tristeza que vem depois.

É preciso continuar. Um passo depois do outro. E depois outro. E outro ainda.

Não significa que nos estejamos a afastar do que já fomos, mas tão somente que estamos cada vez mais próximos de nos reaproximarmos do que somos.

 

Porque precisamos dos reencontros para sobreviver todo o ano.

Mas, para nos reencontrarmos com os nossos e tirar daí a devida alegria, temos de nos reencontrar connosco e dentro de nós sentir paz.

Deixar que as lágrimas sequem sem remorsos de nos sentirmos melhor.

Menos inadaptados.

 

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por Mamã às 01:35


8 comentários

De Joana a 13.07.2014 às 12:25

Ao longo da vida fui tomando decisões que por vezes passavam em afastar-me das pessoas e dos sítios que gostava. Durante muitos anos pensei nos outros e isso não me fazia feliz.
Ainda que por vezes as tomadas de decisões nos façam afastar do que gostamos a luta para uma vida melhor sobrepõem-se.
Eu costumo dizer que mais vale fazer do que passara vida a dizer "e se...".
Claro que as saudades doem...estou nessa fase.
Não sei se o meu comentário fará sentido.
Bom Domingo

De Mamã a 13.07.2014 às 12:45

Claro que o seu comentário faz sentido, Joana, principalmente para quem já leu o seu blog.
É colocarmo-nos no centro da decisão e partir, se isso for o melhor... Principalmente para nós.
Mas, decidir e fazer não significa que depois se conviva bem com o que fizemos; tudo requer uma adaptação e, por vezes, bem dolorosa até atingirmos a serenidade.
Beijinho grande e força.
Estarei sempre aqui para si!

De Ana (Mãe) a 15.07.2014 às 12:10

A arte de pôr sentimentos em palavras ... este me tocou particularmente. Continue! As suas narrativas fazem bem à alma de todos nós. Adoro-a e a esta sua veia.

De Mamã a 15.07.2014 às 22:14

Ah Mãe Ana, e eu a si. Espero ter ajudado em alguma coisa nestes dias que correm....
do

De andreia mota a 15.07.2014 às 14:48

Este não consegui ler até ao fim (mas prometo voltar)... talvez devido às lágrimas.
A minha melhor amiga/irmã de há 25 anos (eu 'só' tenho 30) parte no final do mês para a Suíça, onde na verdade já tenho mais de metade da família. Mas desta vez é diferente e por isso não pude ficar indiferente (vá, o que me acontece em 99,999999% dos posts do blog).
Ainda por cima o aniversário da minha melhor amiga/ irmã é 6f e o jantar (que no fundo é já uma meia despedida) vai ser em minha casa. E estou a tentar pensar em tudo para que seja verdadeiramente especial.
Eu compreendo que formar uma família e ser melhor remunerado pela profissão que escolhemos é um direito que nos assiste... e só posso ficar feliz pela felicidade dela... mas custa tanto para quem fica. Já tenho o coração pequenino só de pensar!!
Mas amar os outros é mais do que suficiente para os deixarmos partir... masnnão sem ligações pelo Skype, whatsapp e tudo e tudo e tudo. E já agora... dizer o quanto vamos sentir a sua falta.
Eu já comecei:)

De Mamã a 15.07.2014 às 22:19

O mais importante, Andreia, é dizer sempre como as pessoas são importantes para nós.
O que significam nas nossas vidas e o que a sua ausência física significará...
Acredito que não esteja a ser fácil para si, mas, por muito feliz que a sua amiga/irmã esteja, tente multiplicar a sua própria tristeza por mil e poderá ter uma pálida ideia do que ela sentirá por ter de deixar tudo e todos para trás.
Mas, felizmente, vai ter a felicidade de exercer a profissão que escolheu e, como eu digo, ainda ser bem paga por isso....
grande faça por manter um sorriso nos lábios nesse jantar.
Ah, e aproveite para a abraçar sempre que passar por ela. Vai sentir falta de o poder fazer, acredite...

De Ricardo santos a 29.10.2014 às 17:53

Sinto falta de tudo! Agarrei nas malas e parti faz agora um ano...e será que sou feliz?!
- A resposta é óbvia. E penso seriamente em voltar e sei que se voltar as coisas serão difíceis na busca de uma vida estável....mas estar sem amigos deixa-me completamente de rastos

De Mamã a 30.10.2014 às 11:56

Ricardo, seja qual for a sua decisão, coragem!!!!
É preciso é decidir!!! E tenho a certeza que os seus amigos - se forem dos verdadeiros e bons - de tudo farão para o ajudar no seu regresso!!!
Apareça aqui mais vezes!!! Pelo menos sempre se vai rindo...

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