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Não só o que me apetece, mas quando me apetece e sobre o que me apetecer! Tenho dito!... E vou continuar a dizer!
Tanto faz que a deslocação seja de 180km ou de 18.000 km.
É um misto de «estamos a fazer pela vida» com «o que raio é que fizemos à nossa vida».
Um sentimento de abandono quando fomos nós que abandonámos:
Um vazio que se nos cola na pele e que, não raras vezes, se nos transborda pelos olhos.
Porque nada é como dantes e queremos tudo de volta:
Mas isso vai demorar, porque uma vida inteira não se constrói do nada em menos de um fósforo, e todas as nossas recordações não se encaixam ali. Não moram ali, apenas em nós.
E por muito que o tempo passe e tudo se torne menos doloroso, nunca é igual. Nada é igual.
O temporário prolonga-se e desistimos de pensar que rapidamente voltaremos.
Os ninhos de amor são alugados ou vendidos e sentimos, mesmo quando voltamos, que já não pertencemos ali.
Com a agravante de também não pertencermos ao sítio de onde viemos, e onde a vida passa por nós sem que tenhamos coragem de a tomar nas nossas mãos, de tanto que estamos agarrados ao que fomos e tivemos e que não recuperaremos mais.
Porque as amizades são como um café... vão arrefecendo.
Porque as pessoas passam a ser outras e, nas nossas próprias cidades, não reconhecemos mais ou sequer somos reconhecidos.
E onde está agora o teu dia-a-dia, não te envolves, não te comprometes, não te dás a conhecer.
E fica-se num limbo onde não somos o que fomos e nunca voltaremos a ter o que tivemos.
E falta-nos a coragem de assumir que o derradeiro passo terá que ser nosso: entregarmo-nos à realidade e esquecer o que foi.
Mas então lembramo-nos:
Nada disto interessa... A coragem de dar o primeiro passo não pode ser destruída pela tristeza que vem depois.
É preciso continuar. Um passo depois do outro. E depois outro. E outro ainda.
Não significa que nos estejamos a afastar do que já fomos, mas tão somente que estamos cada vez mais próximos de nos reaproximarmos do que somos.
Porque precisamos dos reencontros para sobreviver todo o ano.
Mas, para nos reencontrarmos com os nossos e tirar daí a devida alegria, temos de nos reencontrar connosco e dentro de nós sentir paz.
Deixar que as lágrimas sequem sem remorsos de nos sentirmos melhor.
Menos inadaptados.
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